Sobre nada

Sofrer de insatisfação crónica

11 Setembro, 2017

Não sei se é doença, mas poderia ser assim considerada. A insatisfação crónica. Deve ser terrível sofrer disto, nunca estar satisfeito com nada, nunca sentir o bem-estar da satisfação, estar sempre à procura de mais, sentir-se sempre frustrado, estar sempre a pensar no futuro, nunca estar contente com as coisas boas do presente.

Ao longo da vida, encontramos tantos exemplos.

O professor que nunca está satisfeito e não classifica com um 20, diz que faltou uma micro-coisa numa pergunta, e então dá 19,9 valores ao aluno, porque nunca deu um 20 na vida, não vai ser agora.

O chefe que, quando se atingem os objectivos e não se morre na praia como era habitual, se espera que reconheça finalmente o empregado e diz “não fizeste mais que a tua obrigação”.

A mãe que chega a casa e os filhos esperam que ela lhes dê os parabéns por terem passado a tarde toda a limpar o pó como pediu, e ela repara apenas num bibelot que tem ainda um pouco de pó nas costas.

O amigo a quem se dá uma prenda para o seu filho que não é nem gigante, nem cara como todas as outras que está a receber, e se espera que diga obrigado, adorei e diz apenas “ah, disto ainda não tem”.

A senhora da mercearia que está a fazer a conta de várias coisas que  até se podiam comprar no hipermercado, mais barato concerteza, mas o cliente tem o objectivo de ajudar o comércio local, a máquina registadora marca mais de vinte euros em meia dúzia de coisitas e a senhora diz “é só?” em vez de dizer, por exemplo, “precisa de mais alguma coisa, posso terminar a conta?”

A pessoa magra que está a jantar com um grupo de amigos, todos diferentes, uns maiores outros mais pequenos, mostra o seu micro-pneu na barriga e diz que nada lhe serve.

A criança que nunca está satisfeita com os brinquedos que tem e inveja os brinquedos que os amigos têm em casa ou levam para brincarem juntos no parque.

O cidadão que nunca concorda com nenhuma medida do governo, que está sempre a apontar defeitos e nunca dá o benefício da dúvida.

Os pais que refilam que o parque infantil não tem um escorrega xpto, que tem areia, que os baloiços são muito altos, que são muito baixos, que deviam ser em madeira, que deviam ser em plástico, que não tem um banquinho, que fica perto da estrada, que não tem lugar para estacionar perto, mas esquecem-se de ver que os filhos estão a brincar e felizes com o que há.

O cliente que pede um café a três quartos e refila com o empregado, manda o café para trás, porque não veio como pediu, indignadíssimo que o café estava a cinco oitavos.

Os pais que nunca elogiam o filho só porque sim e passam a vida a apontar-lhe defeitos, porque aquela letra está torta, ou pintou fora do risco, ou está a ver-se a cola, ou o lego não ficou exactamente montado como está nas instruções.

A pessoa que está sempre a refilar com a sua própria vida e não consegue ver o que tem, o que consegue, o que pode retirar de bom.

Eu já sofri de insatisfação crónica, há muitos anos atrás. Nunca estava contente com o que tinha, nunca estava satisfeita com o presente. Felizmente, passou-me! E digo-vos: a minha vida melhorou muito desde que comecei a aproveitar o aqui e agora, desde que passei a ser positiva e realista. Sinto-me melhor e mais feliz. E lá por aproveitar o presente, não deixo de ter ambições ou perspectivar o futuro. Não vivo é insatisfeita, não sofro dessa doença. E desde que passei a estar e a ser assim, as pessoas estão sempre a dizer-me “estás com bom aspecto”, apesar de ter milhentos cabelos brancos, rugas, flacidez, olheiras de meia-noite… e até consigo entender. Porque os meus olhos sorriem 🙂

Pronto, ok, não estou sempre a falar bem de tudo, um bocadinho de sarcasmo na vida também sabe bem de vez em quando…mas só um bocadinho, mesmo, eheheh.

Custa-me muito os pais nunca estarem satisfeitos com os filhos, os empregadores nunca estarem satisfeitos com os empregados, os professores com os alunos, os doentes com os médicos, o cidadão com a sociedade, as pessoas umas com as outras, Não há pachorra! Vá, andem lá, aproveitem mais as coisas boas do dia e deixem-se de insatisfações…vão ver que a saúde e o aspecto melhoram, e muito!

Ah, e já agora, aproveitem para ficarem satisfeitos com os sucessos e coisas boas que acontecem aos outros, genuinamente, sem invejas, só porque gostam de ver os outros felizes.

 

(ainda me chamam para fazer sessões de coaching e tal e coisa, ahahahah, já me estou a ver “coacher de satisfação”, ahahahah, era lindo!)

 

  • Responder
    Claudia (Sabores do Ninho)
    11 Setembro, 2017 às 17:23

    Muitos parabéns por este texto magnifico! É verdadeiramente inspirador. Revejo-me nas tuas palavras. Também comecei a saborear o dia a dia, comecei a dar mais atenção às “coisas” boas e o reflexo disso, foi ser muito mais feliz. Há também um outro factor, que para mim, contribuiu imenso. Afastar-me de pessoas tóxicas. Aquelas que nos fazem sentir mal, mesmo apenas com um olhar. Muito obrigada pelo texto e pela partilha. Beijinhos

    http://saboresdoninho.blogspot.pt

    • Responder
      mamã cereja
      19 Setembro, 2017 às 12:48

      Cláudia, muito obrigada eu pelas gentis palavras! Eu também sou assim, gosto de olhar nos olhos das pessoas e sentir as suas vibrações 😉 Vou espreitar os sabores!

  • Responder
    Sandrine
    11 Setembro, 2017 às 15:04

    Amei o teu texto amiga…apoiado a 200%!

    • Responder
      mamã cereja
      19 Setembro, 2017 às 12:46

      <3 beijinhis

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