Vários adultos à mesa de jantar, vários casais, todos com filhos. Elas, as crianças de várias idades, já tinham comido e andavam a pintar a manta pela casa fora. Os adultos conversavam e o tema, como quase sempre, girava à volta dos filhos. Até que alguém perguntou “mas se é assim tão complicado, porque é que temos filhos?”
Silêncio. Juro! Um silêncio curto, mas um silêncio, onde eu também estava incluída. Não consegui responder com prontidão. Fiquei a pensar, mas da minha boca não saiu uma resposta rápida. E ainda fiquei mais pensativa. Se eu, pessoa que até tem um blog onde escarrapacha tudo e mais umas botas da sua vida com os filhos, porque razão não consegui ter uma resposta na ponta da língua à pergunta “porque é que tens filhos?”
Entretanto, foram surgindo explicações e desabafos, experiências e confissões sobre as razões que levaram aqueles casais a terem filhos.
E eu, porque é que tive filhos? Pode parecer um cliché do pior, mas sinto que me bateu aquela coisa do “chamamento”, sei lá, a biologia tocou os sinos por volta dos 33 anos, bateu-me aquela coisa de deixar descendência, de passar os genes, de ver um filho crescer.
Em boa verdade, nunca fui daquelas pessoas que dizia à boca cheia “ah, eu vou querer ter x filhos, uma menina e um menino, e vão chamar-se X e Y com toda a certeza, e tem que ser antes de n idade, e já me estou a ver a ser mãe”. Não, nunca fui dessas pessoas.
Nem tinha aquele impulso de ir logo pegar ao colo nos bebés recém-nascidos das amigas, nem de desatar a brincar com os filhos dos outros. Por acaso, até me incomodava quando essas pessoas me espetavam com os bebés nos braços “toma, pega-lhe um bocadinho”, em jeito de castigo por eu não ter filhos e ter uma vidinha boa, e eu depois ficava ali com o menino nas mãos, literalmente, sem saber o que fazer.
Também não me lembro de em miúda brincar aos papás e às mamãs, ou de dar colinho aos bonecos. O instinto maternal foi coisa que nunca se mostrou presente na minha vida.
Até que um dia, numa consulta de rotina no centro de saúde com o pai cerejo, decidimos, na sala de espera, dizer à médica se podíamos fazer análises para ver estava tudo bem e começarmos a pensar em ter filhos. Pumbas! Fomos apanhados na rede naquele preciso momento, nunca mais de lá saímos!
Os meus filhos cansam-me muito. Às vezes, dão comigo em doida, sinto que vou explodir a qualquer momento, que só me apetece ficar sozinha um bocado. Às vezes, penso que não tenho jeito nenhum para ser mãe e no que me fui meter, em como é que vai ser daqui para a frente, se no futuro me vou continuar a passar muitas vezes com eles, se algum dia vou voltar a pôr o sono em dia ou a ter a casa organizada, ou a conseguir terminar uma tarefa sem interrupções.
Ser mãe é cansativo. Ou melhor, ser a mãe que quero ser é cansativo. Apesar de tentar, sinto que nem sempre consigo. Talvez tenha a porcaria das expectativas demasiado elevadas, afinal fui eu que decidi ser mãe, que tive logo gémeas da primeira vez e depois cometi a inconsciência de ter mais um com elas ainda com três anos, fui eu que escolhi procriar e testar a genética.
Ter filhos é uma responsabilidade do caraças! É muito bom, é lindo, é mágico, mas é uma grande responsabilidade. Não é como aprender a usar o excell ou a repicar bactérias, não é uma tarefa que se aprende numa formação, é muito mais que uma profissão.
É ter nas mãos muito do futuro daquele ser pequenino, é fazer escolhas e tentar acertar, é nunca mais ter sossego. Educar é esmagador ou, como se diz em estrangeiro, é “overwhelming”.
Mas, e há sempre um mas, é a tarefa mais bonita que tive e terei na vida. É poder amar mais do que julgo ser possível. É inchar de orgulho vezes sem conta. É olhar para a coisa mais extraordinária que já fiz no mundo tantas e tantas vezes. É ver a beleza personificada num filho. Nos meus três filhos.
Por isso, se voltasse a estar naquela jantar, talvez não conseguisse responder àquela mesma pergunta. Mas sei que se a pergunta fosse “o que é para ti ser mãe?”, eu conseguiria responder sem hesitações. É tudo!
4 Comentários
Sandrine
8 Janeiro, 2018 às 10:22“Os meus filhos cansam-me muito. Às vezes, dão comigo em doida, sinto que vou explodir a qualquer momento, que só me apetece ficar sozinha um bocado. Às vezes, penso que não tenho jeito nenhum para ser mãe e no que me fui meter, em como é que vai ser daqui para a frente, se no futuro me vou continuar a passar muitas vezes com eles, se algum dia vou voltar a pôr o sono em dia ou a ter a casa organizada, ou a conseguir terminar uma tarefa sem interrupções.
Ser mãe é cansativo. (…)
Ter filhos é uma responsabilidade do caraças! É muito bom, é lindo, é mágico, mas é uma grande responsabilidade. Não é como aprender a usar o excell ou a repicar bactérias, não é uma tarefa que se aprende numa formação, é muito mais que uma profissão.
É ter nas mãos muito do futuro daquele ser pequenino, é fazer escolhas e tentar acertar, é nunca mais ter sossego. Educar é esmagador ou, como se diz em estrangeiro, é “overwhelming”.
Mas, e há sempre um mas, é a tarefa mais bonita que tive e terei na vida. É poder amar mais do que julgo ser possível. É inchar de orgulho vezes sem conta. É olhar para a coisa mais extraordinária que já fiz no mundo tantas e tantas vezes. É ver a beleza personificada num filho. Nos meus três filhos.”
É tão isto amiga…
Mas ao contrário de ti, desde há muito que queria ter filhos…desde cedo que pensava que amaria ser mãe, de preferência 3! Quando soube da minha doença crónica aos 24 anos pensei que seria muito mais complicado ter filhos, que seria um risco para a minha saúde, que poderia sofrer abortos, enfim…mas isso só me deu mais forças para ir em busca do sonho! A Laura nasceu após uma grande tempestade nas nossas vidas, um trágico acidente de carro na A2 quando íamos de férias e quase nos tirou a vida ou me mandou para uma cadeira de rodas…nesse momento e após a cirurgia à coluna, que durou umas infinitas 9h, assim que o médico me veio ver a minha 1ª pergunta foi: Posso engravidar? Quando o poderei fazer? Engravidei 3 meses após esse acidente quando ainda estava de baixa…foi o momento mais feliz na minha vida até ali!
Depois, tinha ela 2 anos e meio quando decidi que queria mais um…tentámos e tivemos uma perda gestacional em Ag. 2012 e em Dez. engravidei de novo! Felicidade reprimida até fazer a eco…e qual a surpresa quando as 7 semanas e 2 dias descobrimos não 1 mas 2 bebés… O segundo foi o brinde mais maravilhoso da minha vida…digo que foi a compensação por aquele ser que perdi quase no inicio da gravidez… Desde aí que é a loucura total que tão bem conheces…e como disse a Ana pareço muitas vezes BIPOLAR, vou do riso ao grito em segundos…é cansativo ser mãe, é muita responsabilidade ser mãe e criar 3 seres neste mundo de loucos, mas é o melhor da minha vida, elas são o melhor de mim !
BOM ANO Amiga! Beijinhos
mamã cereja
8 Janeiro, 2018 às 13:26Bem, que percurso tão intenso!!! És uma vencedora! Beijocas e muito bom ano para vós, tudo do melhor!
Ana
5 Janeiro, 2018 às 0:12Revejo-me tanto neste texto! Também não consigo explicar porque decidi ter filhos, não era muito maternal e nunca fui de me imaginar cheia de filhos, mas a dada altura passou a fazer sentido para nós! E agora os gémeos não foram planeados, mas assim que soubemos que aí vinham já não nos imaginávamos sem eles! 🙂
Os filhos desesperam-nos, mas são o melhor! A parentalidade é a coisa mais bipolar de sempre…
mamã cereja
5 Janeiro, 2018 às 15:19Olá Ana, bem-vinda!!!! É assim, ficamos apanhadinhas por eles, os filhotes, não é? Muito beijinhos e cá vou acompanhado as vossas histórias. (é verdade, tens que fazer parte do próximo encontro de gémeos da zona centro!!!)