Num grupo de mães, alguém se abespinhou com um comentário meu. Talvez com alguma razão, porque eu fui fazer um comentário quando o que a pessoa pediu foram ideias. Talvez a pessoa tenha percebido mal o meu comentário, às vezes lemos e interpretamos mal, mas eu já dei para o peditório de me estar a justificar e para não continuar a haver mal-entendidos, apaguei o comentário.
Nisto dei por mim a pensar que género de mãe sou eu. Se o que sou, o devo à mãe que tenho, aos exemplos que fui vendo. Se o que tento ser como mãe, o devo aos conselhos das amigas, ao que vou lendo, ao que vou recebendo dos meus filhos. Não cheguei a uma resposta. Acabei a tentar perceber se a idade, o ter sido mãe depois dos quarenta, me influencia de alguma forma.
Aos quarenta já tenho uma grande dose de vivências e acontecimentos. Aos quarenta já tenho muitas amigas que foram mães perto dos trinta e com as quais convivi quase sete anos, em que elas eram mães e eu queria ser mãe. Aos quarenta vivo num século em que se fala e se discute a parentalidade com interesse, dedicação e sobretudo com consciência. Aos quarenta já trabalhei muito, conheci muitas pessoas, viajei, encontrei, descobri, desiludi, fiquei desiludida, encantei-me, perdi, sonhei.
Feita esta análise, penso que a mãe que sou tem algo a ver com a idade que tenho. Ser mãe aos quarenta não será igual a ser mãe aos trinta. Simplesmente porque a vida aos quarenta não é igual aos trinta e o pensamento e forma de estar na vida, mudam alguma coisa, mesmo que ligeiramente.
Aos quarenta estou-me borrifando para o que pensam de mim. Claro que gosto de agradar aos amigos e gosto de ter um ar simpático e bem disposto. Mas não mudo o que penso só para agradar aos outros ou porque parece mal se não fizer igual.
A maternidade é a fase da vida onde mais ouvimos palpites, bitaites e opiniões. E até gosto de pedir ajuda e saber o que pensam as pessoas quando eu não tenho certezas ou não faço mesmo ideia do que fazer. Há sempre gente a querer ajudar de forma genuína e sem julgamentos e, muitas vezes, humildemente reconheço os meus erros e volto atrás nas decisões, com base em conselhos. E eu, que até tenho um blog onde partilho algumas estratégias, fico contente quando ajudo alguém, quando alguém me diz nunca tinha pensado nisso assim. E também fico contente quando alguém me diz que não concorda comigo e defende o seu ponto de vista. Porque apesar de dar palpites, longe de mim julgar as mães que sabem sempre, SEMPRE, o que é melhor para si e para os seus.
Acabei por perceber o que defendo para todas as mães: pensar pela sua cabeça e não se deixar levar por modas, diz-que-disse, olhares, julgamentos e impressões. Aproveitar os conselhos de outras mães e pais, experimentar, pedir ajuda, ouvir. Ter a capacidade de olhar primeiro para si antes de pedir algo aos filhos. Decidir por si e não pelos demais. E não cair na tentação de julgar os outros.
O que os quarenta me trouxeram foi alguma serenidade e perspicácia. Também muitos cabelos brancos. Aprender a observar com calma. E sobretudo descobrir que os meus filhos não precisam de ter coisas, de colecionar coisas, de ter e fazer o mesmo que os outros. Eles só precisam da presença dos pais, plena e carinhosa. Como dizia uma amiga “mais presença, menos presentes”. E isso aprendi com o tempo, em quase seis anos de maternidade, a abrandar o ritmo, a aproveitar os meus.
O que eu queria dizer àquela mãe é que os outros vão sempre fazer coisas diferentes de nós. E só porque é hábito não devemos entrar na mesma onda, se antes achávamos que não fazia sentido. O que eu quis dizer àquela mãe é que não faz mal pensarmos pela nossa cabeça, mesmo que isso signifique fazer o contrário de todos os outros.
Os meus filhos vão ouvir-me dizer isto sempre até ao fim dos meus dias, mesmo que revirem os olhos e digam em todas as vezes: “Já sabemos! Temos que pensar pela nossa cabeça, estás sempre a dizer isso, ó mãe!”
(para que conste, este desabafo é uma mixórdia de pensamentos sem nexo, ligação e oportunidade nenhuma, escrito já muito tarde e a sofrer com as mazelas de uma mãe quarentona, que nesta idade uma pessoa não aguenta bem três noites seguidas mal-dormidas e dá-lhe para a parvoíce)
4 Comentários
Ligia Fernandes
11 Maio, 2017 às 18:17O “ona” não existe! Você é simplesmente uma mãe. Eu fui uma mãe “vintona” de 4 filhos e tive os mesmos sentimentos que aqui expressa. Mas vou contar um segredo: tudo tem um lado posituvo e negativo. Por ter tido os filhos cedo, muito cedo me senti mais velha. As minhas colegas quarentonas, que tiveram os filhos mais tarde, pareciam mais novas do que eu. E eu já quarentona apetecia-me ter um bebé. Queria encaixar naquele grupo!
mamã cereja
15 Maio, 2017 às 23:19Oh, obrigada por esta perspectiva, um grande beijinho!
Edien Mar
11 Maio, 2017 às 17:54Uma excelente parvoíce!!! Adorei o texto.
Eu também procuro, todos os dias (uns com mais sucesso que outros) pensar pela minha cabeça, mais concretamente, agir de acordo com aquilo que acho certo e não com aquilo que acho que vai ser, ou não, bem aceite. Aos meus filhos ensino-lhes isso desde sempre (mesmo que eu, por vezes, não o faça…) , pensar por si mesmo e não deixar que o que os outros pensam de nós nos defina… Beijinho
mamã cereja
15 Maio, 2017 às 23:18Tentamos todos os dias mais um pouco, obrigada!