Antes de falar da minha realidade, vamos lá aqui dar uma espécie de achega sobre a menopausa para os comuns dos mortais.
A menopausa não é, nem pode ser, tabu.
A menopausa não é fim da linha e as mulheres não estão acabadas coisa nenhuma. A menopausa é uma fase da vida das mulheres, durante a qual acontecem algumas alterações fisiológicas e hormonais, que podem ter manifestações físicas e emocionais, ou não, pois cada mulher é um caso.
A palavra “fim” pode ser associada apenas a uma parte da menopausa, mais propriamente, ao fim da função ovulatória e capacidade reprodutiva, uma vez que estas estão relacionadas com a diminuição da produção de estrogénios, hormonas femininas responsáveis pela produção de óvulos.
Para percebermos um pouco mais sobre isto tudo, vamos a algumas definições (sendo que eu sou só uma pessoa interessada e não sou médica nem nada que se pareça; o que vem a seguir é informação recolhida a partir de algumas referências descritas abaixo…antes que venha malta dizer “mas quem é que esta pensa que é”, fica já aqui o disclaimer):
- A menopausa é a cessação permanente da menstruação (amenorreia) devido à perda da função folicular ovariana.
- Estágios do sistema reprodutivo:
- Pré-menopausa (fase reprodutiva) – desde a menarca até à menopausa;
- Perimenopausa – fase que precede a perda de menstruação, em que surgem os primeiros sintomas e começam as variações no padrão menstrual, e, geralmente, dura até 1 ano após a última menstruação; é nesta fase que os sintomas são mais intensos, devido às variações hormonais. Apesar dessas variações, ainda é possível ocorrer uma gravidez na perimenopausa;
- Menopausa – momento em que perfaz um ano desde a última menstruação;
- Pós-menopausa – a partir de um ano após a última menstruação.
- Geralmente, ocorre entre os 45 e 55 anos, excepto nos casos de menopausa precoce que ocorre entre os 40 e 45 anos, devido a causas genéticas, autoimunes ou induzidas. Se acontecer antes dos 40, é chamada de insuficiência ovárica prematura.
- Pode, ou não, ser acompanhada por sintomas físicos evidentes.
E quais os sintomas, perguntam vocês? Bom, estes podem durar entre 6 meses a 10 anos, variar desde inexistentes a graves, começando pelas irregularidades menstruais junto com sintomas:
- Vasomotores – afrontamentos, calores súbitos, suores noturnos, sudorese excessiva;
- Vaginais – secura, irritação e prurido, urgência urinária, diminuição da líbido;
- Neuropsiquiátricos – dificuldades de concentração, perda de memória, depressão, ansiedade, insónia, dificuldade em dormir, fadiga, irritabilidade, alterações do humor, enxaquecas;
- Cardiovasculares – palpitações, aumento do colesterol LDL (e colesterol total), aumento de peso e de gordura abdominal;
- Músculo-esqueléticos – perda de densidade óssea, diminuição da absorção de vitamina D, dores articulares, dores musculares, cãibras mais frequentes.
Ora, nem todas as mulheres na menopausa sofrem destes sintomas, ou de todos estes sintomas, cada mulher tem uma experiência própria e única. O que se sabe é que os sintomas da menopausa têm um impacto real e podem afetar, e interferir, com a qualidade de vida das mulheres.
Acho que estou na menopausa, e agora?
- A primeira coisa é apontares a data da última menstruação. Há mulheres que apontam as datas dos períodos menstruais desde sempre. Mesmo que não saibas a data exacta, deves ter uma ideia, por exemplo, “eu acho que não tenho o período há dois meses”. Esta data, a da última menstruação, é importante reter, pois é a que determina em que fase é que a mulher está. Também se preconiza que as análises hormonais e a ecografia sejam feitas um ano após a última menstruação, permitindo confirmar laboratorialmente o que já se suspeita clínica e fisicamente;
- Marca consulta de ginecologia e faz os exames direitinhos;
- Informa-te em sites de referência, sobre o que é a menopausa, como saber reconhecer os sintomas, quais as opções de tratamento e que mudanças de estilo de vida devem ser adoptadas, etc. Existe este grupo de facebook Comunidade de Saúde em Menopausa Movimento Menopausa Divertida PT, criado pela Cristina Mesquita De Oliveira que publicou o livro Descomplicar a Menopausa muito completo e fácil de entender para ajudar as mulheres a lidar com a menopausa de forma natural, divertida e descomplicada. Esta procura de informação, além de ajudar a mulher e de proporcionar interação com outras histórias, permite ir para a consulta munida de uma lista de informação sobre quais as perguntas a fazer na consulta, o que pode ajudar bastante o/a médico/a a perceber o teu caso e a orientar melhor o tratamento.
Quais os tratamentos?
Bom, estes dependem de cada caso, mas em geral podem incluir uma ou mais destas medidas, de acordo com os sintomas existentes e o seu impacto na vida da mulher:
- Não farmacológicas – terapia, mudança da alimentação, exercício físico, pilates, evitar (os seus) gatilhos como por exemplo o álcool ou picante, usar roupa de algodão, técnicas de refrescamento, exercícios de relaxamento;
- Terapia hormonal – estrogénio com ou sem progestogénios associados, moduladores seletivos dos receptores de estrogénio MSRE’s (como é óbvio esta tratamento só deve ser seguido com indicação e orientação médica, não desatem a tomar os medicamentos da amiga só porque ela melhorou dos calores; muita atenção a esta questão!!!)
- Medicamentos não hormonais – direccionados para os sintomas existentes;
- Suplementos – embora sem eficácia comprovada nos sintomas vasomotores (confesso que não aprofundei esta questão dos suplementos…não sou a melhor pessoa para dar bitaites nesta parte, deixo para especialistas)
E agora, o meu relato pessoal.
A menstruação já se foi há mais de ano e meio, quase dois. Logo nos dois meses seguintes comecei a sofrer do que eu chamo “as minhas alterações climatéricas”. Sempre cheiinha de calor, com o termostato completamente avariado. De repete comecei a suar mais, tanto que tive que no verão abdicar das opções de desodorizantes vegan e tal e coiso, pois não eram suficientes e tive que recorrer a antitranspirantes clássicos com efeito prolongado, a bem de não andar sempre a colar nas axilas e com a roupa encharcada nessa zona. A ventoinha em casa, o ar condicionado no carro e um leque na carteira passaram a ser os meus melhores amigos. Tenho suores noturnos loucos, ao ponto de, no verão, ir dormir para o sofá com a ventoinha virada para mim toda a santa noite. O primeiro afrontamento aconteceu-me em casa, sentada no sofá a ver tv, e senti uma onda de calor de baixo para cima super desconcertante. Como quando ficamos com medo de alguma coisa e naqueles breves segundos não sabemos o que fazer e só estamos em pânico, sabem? Um afrontamento é isto, é uma aflição galopante que dura uns segundos e que pode acontecer em qualquer altura do dia ou situação (já me aconteceu no trabalho, no supermercado, a tomar café com as amigas, à noite, na cama, sei lá, um horror). Depois surgiram as insónias e digo-vos, este deve ser o sintoma mais limitante que tenho. As minhas insónias ou acontecem a meio da noite, em parte provocadas pelos suores noturnos, em que fico ali umas horas a dar voltas na cama para tentar adormecer de novo, ou então não consigo pregar olho mesmo que me deite cansadíssima. Gradualmente, também fui ganhando mais peso, sobretudo na barriga, a chamada gordura abdominal, o que é uma valente merda treta, porque para a perder tenho mesmo que fazer exercício localizado, além da roupa ficar toda apertada (o que faz ainda mais calor e aumenta a sudorese…estão a perceber a “pescadinha de rabo na boca”, não estão?). Diz quem faz exercício que é possível reverter esta sina e diminuir a cintura, mesmo na menopausa. Nesta fase comecei a ter mais dificuldades de concentração e perdas de memória, tendo depois percebido que estava a sofrer do chamado “nevoeiro mental”. Esta expressão não podia ser mais acertada, parece mesmo que temos um nevoeiro a complicar a visibilidade do cérebro, que não nos deixa processar e reter a informação, além das vezes em que me esqueço das coisas ou do que me disseram há minutos (então o que me disseram ontem…é para esquecer, ahahahah). Outro sintoma muito comum são as alterações de humor e a irritabilidade, sendo que este até me dá um certo jeito para justificar algumas atitudes, tipo “não sou eu, é a menopausa”. Há pouco tempo, surgiram as dores articulares e, isso sim, dá logo um certo ar de que uma pessoa é velhinha, porque dá um passo e queixa-se logo das cruzes. Este sintoma pode estar relacionado com a perda de densidade óssea, devido à diminuição da produção de estrogénios, pelo que convém fazer exames. O último sintoma de todos foram os zumbidos nos ouvidos e vertigens, o que é uma grande chatice.
Estão a ver-me deitada na cama a meio da noite, encharcada em suor, a sofrer de insónia, com dores nas articulações e zumbidos nos ouvidos, a sentir aquilo que uma pessoa sentia em jovem quando chegava a casa quase de manhã depois de uma noite na disco-night, mas sem o fulgor e a frescura dos 20 e poucos anos, estão? É triste!
Bom, com tudo isto apontado, com leitura científica feita, procurei ginecologista, de preferência mais orientada para a menopausa e fiz exames. O algodão não engana e, de facto, as minhas análises e ecografia confirmaram o diagnóstico clínico de que estou oficialmente em pós-menopausa. Estou a fazer medicação, consegui mudar algumas coisas na alimentação, mas ainda tenho que fazer mais mudanças, comecei a fazer exercício físico (pilates) e tenho que deixar de lado (ou seja, destralhar) as roupas que não são de algodão ou linho. O vinho tinto deu lugar ao vinho branco, mas pouco, que desde que estou na menopausa, qualquer mililitrozinho de vinho tinto potencia dramaticamente os calores e fico com a cara toda vermelha, durante várias horas, várias, mesmo a denunciar que estive a beber. Além de que geralmente os convivas da mesa ficam também eles aflitos e eu percebo que estou vermelha que nem um pimento e a afligir a malta, quando alguém diz “vou ligar o ar condicionado”. Não há direito, uma pessoa engorda, tem que passar a fechar a boca, anda sempre toda esbaforida e nem as mágoas pode afogar num copo de tinto. É triste! Continuo a andar com o leque sempre comigo e uso e abuso do humor para lidar com esta cenaça toda.
A boa notícia é que há quem não passe nunca por nada disto e a outra é que hoje em dia não faz sentido as mulheres sofrerem sozinhas ou não terem acesso aos melhores tratamentos. Procurem ajuda e informem-se com quem sabe. Sigam este podcast Não fica bem falar de...,por exemplo.
Aproveito para pedir a todas as pessoas, mulheres e homens, que não olhem com peninha para as mulheres na menopausa. Esta fase é lixada para algumas mulheres, mas é só isso, uma fase. É toda uma revolução interior, sim senhora, mas tenho para mim que quando isto tudo acalmar, vai ser uma fase espectacular de libertação (a parte mega-boa da menopausa é não ter que lidar com o período todos os meses, oh pá, é um descanso), como que um renascimento, acompanhado por uma maturidade confortável. O meu conselho final é que procurem ajuda médica, que mantenham o bom humor e que conversem com outras mulheres. Costumo dizer às minhas filhas que, além de perder o período, também perdi a vergonha e que uma pessoa com 51 anos se está a borrifar para o que os outros pensam. Talvez este seja também um sintoma da menopausa, marimbar-me para as opiniões alheias e deixar de fazer (alguns) fretes. Em suma, é viver a vida e aproveitar o presente!
E agora um vídeo para descomprimir
E as referências que usei para este artigo:
https://www.facebook.com/WellsPT/videos/976610704183944/
https://www.youtube.com/watch?v=hzGefGznyKw&list=PLJzCuHtBzYoOTUS4K4n70jjZQ9yJ0J9OO&index=2
https://www.facebook.com/AssociacaoPortuguesaMenopausa
https://www.instagram.com/reel/C_V7O_XpNbo/?igsh=MXdkYmh3c3pwajRhNQ%3D%3D
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