Quando se aproxima a entrada na escola primária, ou como se diz agora, no primeiro ciclo, somos um turbilhão de emoções, pensamentos, ansiedades, dúvidas, ou então, já estamos calejados com os outros filhos e já nem pensamos nisso. De qualquer forma, todas as mães e pais se debatem, pelo menos uma vez, com uma primeira entrada na escola a sério, uns aos 5, outros aos 6 anos, em geral.
Inevitavelmente, lembramos em perspectiva como foi a nossa escola, a nossa experiência, o que recordamos de bom e de menos bom, como era a nossa professora ou professor…só que já nada é igual, nada…vá, quer dizer, ainda há algumas coisas que se mantêm, mas poucas.
Então, eu que já passei por isso há dois anos, resolvi pensar se tinha alguma coisa interessante a dizer sobre a escolha da escola primária (vá, deixem-me lá continuar a chamar-lhe assim, por favor! Sei que é incorrecto, mas é mais simples).
Também eu, assim lá para o mês de Abril do ano em que as minhas filhas entraram na escola, fiz perguntas a amigos, pesquisei em grupos, ouvi histórias, conversei com os outros pais do jardim-de-infância, recolhi informação sobre as várias escolas, tentei sacar tudo sobre os possíveis professores, até que uma amiga já experiente nestas andanças, me disse “eh pá, escolhe aquela que te der mais jeito”. Foi esclarecedor! Até porque querem saber uma coisa mesmo muito especial: o que interessa verdadeiramente na escola primária, é o professor ou professores com que os nossos filhos se cruzam!! Isso é que é de facto o mais importante e, muitas vezes, o menos controlável.
Convém dizer-vos que, para mim, apenas fazia sentido a escola pública. E nem é por questões de dinheiros (que também importam), é mesmo por uma questão de fundo, de conceito, de defesa e crença na escola pública. Sou absolutamente fã e crente que a escola pública é a melhor opção para os meus filhos. E mesmo que tivesse muito euro a nadar na minha conta bancária, era essa a opção (até porque preferia usar esse euro a viajar e assim). Ora, com base nesta convicção profunda, entrei no maravilhoso mundo dos agrupamentos e dos critérios de prioridade. Então cá vão as minhas dicas:
Antes de desatar a ver escolas, convém verificar os critérios de prioridade de acesso às escolas em vigor para esse ano que podem ter mudado e isso tem importância nas escolhas.
- Escolher as escolas que são da área de residência ou do mesmo agrupamento do jardim-infantil ou dos irmãos ou da área de trabalho ou outra qualquer.
- Telefonar a marcar uma visita. As escolas, mesmo as públicas, estão habituadas a receber pais individualmente ou em grupo, e também grupos de crianças de 5 anos dos JI’s que querem ir ver “como é a escola dos grandes”.
- Fazer uma lista de perguntas e não sair da visita sem as fazer todas, mesmo todas. A partir do ano passado, pode dar-se o caso de algumas escolas terem adoptado a flexibilização curricular, mas em geral, o horário letivo, os tempos de intervalo, as atividades de enriquecimento curricular são equivalentes em quase todas as escolas, Mesmo assim, aqui vai a lista das minhas perguntas por ordem de importância:
- Os professores do 1º ano são do quadro, vão cá estar para o ano ou prevê-se que sim? Como se chamam? (isto serve para poderem depois ir cuscar por essa cidade fora as opiniões e informações sobre dita pessoa; não me venham cá com paninhos quentes, que toda, toda a gente faz ou tenta fazer isto)
- Os pais podem entrar na escola e acompanhar os filhos à sala? (não me venham com teorias de que os pais têm que libertar os filhos e deixá-los ir sozinhos logo ao fim de dois dias, que eu não me convenço…nos primeiros dias, semanas até, se for preciso uma mãe ir até à sala para o filho ficar calmo, então deve poder ir, e aos poucos ir desfazendo o laço; da mesma forma, que outros pais que optem por deixar ao portão e ir à sua vida, o possam fazer…é tudo uma questão de bom senso)
- Qual o horário da escola, lectivo e não lectivo?
- Que AEC’s existem e quem as lecciona? (isto também serve para a mesma ação de cima, cuscar opiniões)
- Qual o horário do CAF – componente de apoio à família, é o prolongamento de horário de manhã (antes das 8h30) e à tarde (depois das 17h30), e nas férias – e que entidade proporciona o CAF? (isto também serve para ir cuscar, até porque o CAF é pago, julgo que menos de 100€ por mês com férias incluídas, mas estou a falar de cor)
- Pedir para ver as salas (as paredes de uma escola costumam dizer muito sobre a escola, bem como a disposição das secretárias…porque essa parte tem muito a ver com a forma de leccionar de cada professor), o espaço de recreio, o refeitório, as casas-de-banho, os espaços comuns.
- Como funcionam as refeições, horário, quantos funcionários estão, como é a dinâmica dos almoços e lanches, como costuma ser a comida (este assunto, só este, é motivo para um post inteiro que eu cá tenho muito a dizer sobre isto…fica para outea vez)?
- Esta escola é inclusiva? Podem achar estranho esta pergunta, não é de todo discriminatória, mas ninguém está livre de ter uma criança com necessidades educativas que muitas vezes só se manifestam ao longo do 1º ano…Além de que uma escola inclusiva tem outra preparação para lidar com algumas situações…Esta pergunta não é de todo consensual, mas para mim, sempre fez sentido. Até porque sei que as escolas públicas e os agrupamentos têm capacidade de resposta, têm recursos e linhas de ação definidas caso surja alguma necessidade, com algumas excepções, provavelmente.
- Existe alguma política definida quanto aos tpc’s? (outro assunto para um post separado…)
- Existe associação de pais e os pais costumam participar na vida da escola?
- A escola está inserida em algum projeto da comunidade, do agrupamento ou interno?
Depois de fazerem este estudo de mercado, e não havendo grandes questões e uma vez que o que importa é o professor que calhar na rifa, então escolhem pelo que é mais prático. Não há nada pior do que andar a correr para ir buscar os putos à escola, longe do trabalho ou da casa dos avós. Também importa muito, pelo menos para mim, a filosofia, a gestão da direção do agrupamento e os seus objectivos. Aos poucos, irão perceber porquê.
Por último, o grande e magnífico conselho que dou aos pais e mães em ansiedade pré-escola primária, mesmo cheios de dúvidas e nervoso miudinho, é terem confiança e acreditarem na escola! Vão perceber que os vossos filhos, aqueles miúdos fantásticos que se fartaram de brincar no jardim-de-infância, vão entrar numa selva! Uma selva cheia de vegetação maravilhosa, de flores únicas, de surpresas fantásticas, mas também cheia de tempestades tropicais, de obstáculos e conquistas. É uma selva única na nossa e na vida dos nossos filhos! Um momento marcante em que todos os dias vão aprender algo novo, crescer, conquistar, saborear…E para isso, os pais precisam confiar, defender e acreditar na escola! Claro, de olhos bem abertos e com espírito crítico, mas sempre a transmitir aos filhos “esta é a melhor escola do mundo”!
Viva a escola!
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