A Maria do Mar é um ser humano lindo. Não a conheço pessoalmente, já a vi dançar, fiquei impressionada e, muito, muito encantada. Uma amiga já me tinha falado nela, numa miúda fantástica com autismo que dançava lindamente e que era uma inspiração para outros jovens e crianças. Fui ler o seu blog, vi as suas fotografias, vi os seus vídeos e fiquei com a certeza que esta miúda tem super-poderes.
Hoje, trago-vos a Maria do Mar, bailarina, modelo fotográfico, autora e, sobretudo, uma grande grande pessoa.
Olá Maria do Mar. Fala-nos um pouco sobre ti.
Olá! Eu sou a Maria do Mar, tenho 24 anos e sou de Coimbra. O que mais gosto de fazer é dançar e fotografar, são essas as minhas maiores paixões. Considero-me uma pessoa bastante lutadora e sempre pronta a ajudar os outros.
Conta-nos como surgiu o teu diagnóstico de autismo?
O meu diagnóstico surgiu aos 16 anos, quando quis desistir de estudar porque me custava muito ir às aulas. Não percebia o que estava a acontecer comigo, não sabia o que tinha. Sabia que era diferente mas não sabia porquê. Vivia e sentia tudo de maneira diferente, o que fazia com que ninguém me compreendesse nem a mim, nem às minhas atitudes. Comecei a ser seguida por um psicólogo que passado um tempo me diagnosticou Síndrome de Asperger.
O que sentiste a partir desse dia? Onde encontraste forças?
O primeiro sentimento foi de alívio por finalmente saber o que tinha mas logo a seguir veio o medo. Como iria ser a minha vida a partir daquele momento? Como é que as pessoas me iam ver? Como uma deficiente e uma coitadinha? O que iria ser de mim? Iria conseguir ter uma vida normal? Tive muito medo, não me aceitei no principio e não queria ser assim. Mas depois ganhei forças ao encontrar outras pessoas como eu, que me ensinaram a não ter vergonha de mim e a fazer aquilo que gosto. Conheci pessoas com o mesmo diagnóstico que eu, que são muito bem sucedidas na vida, tanto profissionalmente, tanto pessoalmente, e é nestas pessoas todas que vou buscar motivação e inspiração para continuar a lutar e a viver.
Quem são as pessoas mais especiais para ti?
As pessoas mais importantes para mim são a minha família, especialmente os meus pais, que me apoiam, estão sempre prontos a ajudar-me em tudo e me tentam compreender ao máximo; e todas as pessoas como eu que me mostram que não é um diagnóstico que nos define e por toda a força e coragem que têm para enfrentar a vida.
Como surgiu a dança na tua vida e o que significa para ti?
A dança está comigo desde que me lembro. É através dela que posso ser EU e entrar no meu mundo, na minha realidade. É através dela que me consigo expressar e dizer tudo aquilo que penso e sinto. A dança é muito importante para mim, sem ela a vida seria muito mais difícil.
As tuas fotografias são lindas. Quando estás numa sessão fotográfica, em que te inspiras?
Tento sempre transmitir algo, uma mensagem ou uma emoção. Inspiro-me em tudo o que existe há minha volta, na minha vida, no que vou vendo diariamente e no trabalho de outros artistas. Em cada fotografia dou tudo de mim, tento sempre mostrar quem sou, a minha essência, além de toda a dedicação e paixão.
O que te faz sonhar? Tens planos para o futuro?
O que eu pretendo para o meu futuro é ser feliz todos os dias, sem que os meus medos e ansiedades sejam superiores aos meus sonhos. Quero aproveitar todas as oportunidades que a vida me dá, saber viver com todas as imperfeições e tirar partido de todas as coisas boas que o Autismo me deu.
Que palavras queres deixar às crianças e jovens que têm autismo?
Quero que saibam que não estão sozinhas e que existem muitas pessoas disponíveis para nos ajudar e apoiar. E quero que acreditem nelas próprias, que lutem por elas e pelos seus sonhos, que nunca desistem delas e da vida e que sejam sempre elas próprias, sem medos.
O que representa para ti o teu blog Ao som do silêncio?
Eu quero que as pessoas nos compreendam e nos aceitem. Ainda há muito desconhecimento sobre o autismo por parte da sociedade. Este blog é uma oportunidade de as pessoas poderem entrar um pouco mais no nosso mundo e nos percebam um pouco melhor. Que comece a haver respeito, aceitação e que a diferença seja vista como uma mais-valia e não como algo mau. Além disso é um espaço onde posso dar voz a todas as pessoas como eu e que de alguma forma também as possa ajudar.
Gostas de cerejas?
Gosto muito de cerejas. É dos frutos que mais gosto de comer no verão!
Obrigada Maria pela tua gentileza em aceitares o convite para falares de ti. Always believe in your magic!
Podem seguir a Maria do Mar aqui e aqui.
E partilhem, para que mais crianças e jovens se sintam inspirados a não ter medo!
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