Sobre morrer
Aquele tema que um dia sabes vir a fazer parte das perguntas das tuas crias, sobre morrer e vais pensando como irás fazer. E chega o dia e engasgas-te e nem sabes bem como responder. A cerejinha J tem falado muito em morrer. Parece que é normal por volta dos quatro anos. Eu não estou deveras preparada. Mesmo.
Da primeira vez percebi que ela ainda não sabia bem o que queria dizer, o que era morrer. Porque perguntava “mamã, o Joaquim vai morrer?” Engoli em seco, fiz de conta que não ouvi e ela voltou a perguntar. Depois, assim um bocado baixinho, disse “sim, um dia, mas daqui a muitos muitos anos”. A seguir fez a mesma pergunta sobre mim, o pai, e outras pessoas. Fui respondendo da mesma maneira. Até que percebi que ela ainda não tinha atingido a verdadeira dimensão da morte, porque perguntou “e a mesa vai morrer?”. Descansei e respirei fundo.
Passado um mês, já me explicou que as pessoas morrem um dia, e os animais e as plantas também (encontrou umas flores caídas da planta da varanda e disse que as folhas tinham morrido). Parece que já percebeu, que quando se morre, se desaparece.
Ontem acrescentei que as pessoas vivem muitos anos e ficam velhinhas, e só depois de viverem muito muito é que morrem. Acho que não fiz bem…não sei, juro que não sei. Mas como já estava a ficar cansada da conversa mórbida, comecei a dizer-lhes que quando eu fosse muito velhinha ia ter que usar fraldas. Elas não acreditaram. A seguir perguntei à cerejinha L “ó filha, quando eu for muito velhinha mudas-me a fraldas como fazes ao mano? E dás-me a papa na boca que eu já não vou ter dentes para mastigar?” e desatei a fazer caras como se não tivesse dentes e foi a risota geral e entrámos depois na brincadeira.
Fiquei safa, ufff! Por enquanto…
Sobre ter avós
J – Mamã, eu sei quem é que morava aqui.
Eu – Quem?
J – O avô Joaquim.
As cerejinhas e o moranguito só têm uma avó, os outros já morreram e elas nunca os conheceram. Mas sabem os nomes e onde moravam.
Eu – Oh, não sabia. E vocês sabem o nome da mãe do papá?
L – Clementina.
Eu – Muito bem. E da vóvó?
Caras de espanto porque a vovó é a vovó.
Eu – Maria José. E olhem, o primo tem outra avó também chamada Maria José. Já viram? As duas avós do primo têm o mesmo nome.
L – Também quero ter duas avós como o primo.
Porque é que as viagens de carro de manhã são tão produtivas para perguntas da idade dos porquês??? Porquê?
Sobre encurtar caminho e associações verbais
A cerejinha J diz algumas palavras de forma engraçada. Algumas abreviadas que dizer tudo dá muito trabalho:
Desanimados em vez de desenhos animados
Colaranja em vez de cor-de-laranja
Outras por associação com outras:
Futegol porque se marca golo
Arrumário onde se arrumam coisas
Sobre a curiosidade de conhecer o mundo
J – Mamã, quando é que vamos ao zumba?
Eu – Mas tu sabes o que é isso?
J – Sim, é um país porque a Beatriz disse que ia com a mamã ao zumba.
Em que continente ficará este país, alguém sabe?
4 Comentários
Joana Forte
4 Fevereiro, 2016 às 12:36Olá!
Eu posso apenas transmitir aquilo que fomos passando ao nosso pequeno à medida que as perguntas foram surgindo. Convém sempre ir dando a informação à medida de cada pergunta, saciando a curiosidade sem explicações exageradas ou muito elaboradas.
Se eles não ficarem satisfeitos irão perguntar de novo, ou de outra forma, ou numa situação diferente…
Esta é uma temática que não pode ser respondida ou desenvolvida numa conversa, mas sim numa espécie de trabalho contínuo ao longo do crescimento e do ritmo da criança, e a informação deve ir sendo dada à medida que a criança vai ganhando maturidade e incorporando as informações que lhe vamos dando, muitas vezes a conta gotas porque são eles que impõem o ritmo (SEMPRE).
É um tema intimamente relacionado com as nossas crenças (ao fim e ao cabo, esta questão liga-se a questões de fé, quer queiramos quer não…).
Cá em casa temos uma formação base cristã, mas a verdade é que com o auto conhecimento e o amadurecimento das nossas próprias formas de pensar, nos fomos afastando de alguns dogmas.
A dimensão da morte (enquanto fim) que lhe passamos é uma dimensão meramente relacionada com o corpo físico, ou seja, cada corpo tem um tempo de vida, seja um corpo de pessoa, de animal, de planta, até as estrelas têm um tempo de vida…
Quando o corpo esgota a energia que tem deixa de servir, como uma roupa que já não serve. Chega o tempo de esse ser repousar também da vida que viveu e tem de voltar ao lugar onde estão todos os outros seres que não estão no mundo.
É um lugar bonito, onde esse ser irá renovar energias, pensar no que aprendeu na vida passada, naquilo que ainda não fez e/ou aprendeu e planear a sua próxima vida. Vai poder escolher a sua nova família, o seu novo corpo e a sua nova vida.
Trata-se de um ciclo que se renova, e assim, quando uma pessoa morre, ela apenas deixa de estar visível para nós porque vai para outro lugar preparar-se para voltar.
As lembranças que nos deixam são a forma que Deus encontrou para nos lembrarmos do amor que partilhámos enquanto estivemos juntos e nos garantir que, um dia, aqui ou noutro lugar qualquer, nós nos iremos encontrar de novo.
Sim, é uma teoria de reencarnação. Resulta connosco e com a nossa forma de ver a vida e a morte. E parece estar a satisfazer o Pedro (agora quase com 7 anos), que nunca teve problemas em conversar sobre o tema. Ele sabe que tem o nome de um dos avós que apenas conhece por fotografia, mas compreende o amor que ainda hoje existe e nos liga àqueles que já cá não estão. Nunca nos transmitiu medo a respeito da morte.
Acho que independentemente da teoria que escolhemos, o importante é focarmos a nossa explicação no sentimento do Amor, porque é esse que faz com que este tema seja sensível, se calhar mais até para nós do que para eles. Não falamos da morte sem pensarmos e referirmos aqueles que já perdemos, e isso provoca aquele nó na garganta que embarga a voz e faz com que as palavras nos fujam….
Muita calma, pensamentos e explicações simples e positivos. São o meu conselho.
Beijinhos!
mamã cereja
4 Fevereiro, 2016 às 12:48Obrigada querida Joana! A explicação de uma outra vida não será a que vou escolher, mas a tua explicação é de facto bela e baseada no amor. E sim tens razão, o ritmo deles é o que vou seguir, porque informação a mais ou a menos baralha. Um beijinho <3
Sandrine
4 Fevereiro, 2016 às 11:26As “cerejinhas” estão na idade dos porquês e das descobertas e a pergunta sobre a morte faz parte…
A minha mais velha, faz 6 anos em Maio, também já teve essa fase…ultimamente anda mais calma 🙂 e as pequenas (30 meses) ainda não chegaram lá!!
mamã cereja
4 Fevereiro, 2016 às 11:29E estratégias para lidar com isso?