Estas coisas não acontecem só às mães de gémeos. Estas coisas não acontecem só a mães cansadas. Não acontecem só uma vez na vida.
Antes de ser mãe, era o primor da organização. Agora sou o primor do desenrascanço. Antes tinha um bloco cheio de apontamentos, organizado por temas, com recortes de revistas colados, todo cheio de pinta. Agora tento organizar-me e tenho uma agenda em papel, uma agenda no telemóvel, o pinterest, post-its soltos por todo o lado…e nem assim.
E os esquecimentos, ai os esquecimentos.
Conto-vos dois episódios que agora me fazem rir, mas quando dei conta fiquei pior que branca, tal foi a descarga de adrenalina, corei de vergonha, imaginei mil e um cenários se não tivesse corrido assim.
Em Julho do ano passado, tinham as cerejinhas pouco mais que dois anos tentei fazer o desfralde às duas (já vos disse que detesto esta fase?). Nem uma nem outra estavam para aí viradas. Esperei mais 2 meses e voltei a tentar. A L numa semana estava desfraldada, a J voltou a não querer (o que me deu um certo jeito, porque confesso o meu desespero a desfraldar as duas ao mesmo tempo, foi muito mais fácil assim…consigo muitas coisas, mas tirar a fralda a dobrar e ao mesmo tempo é que já não). Ao longo dos meses, por vezes, a J pedia para ir ao bacio como a mana (estamos em pleno desfralde com a J e está a correr bem, ela antes não estava mesmo preparada). Numa noite, depois de lavar dentolas, a L foi ao bacio antes de deitar e a J também pediu. Tirei fralda e disse “vai andando para a tua cama que eu já lá vou pôr a fralda”. Limpei bacios, fui para o quarto, fraldei a L e NUNCA MAIS ME LEMBREI DA J. Às 6 da manhã, aparece a minha J no meu quarto a tremer de frio, encharcada do pescoço aos pés, até as meias estavam molhadas, os lábios estavam roxos, roxos!!!. A miúda dormiu a noite toda assim, molhada, fria…Aqueci-lhe o pijama, vesti-a a correr e dormi o resto da noite abraçada a ela, qual mãe a aquecer a cria. Caraças, como é que me fui esquecer??? Andei uns dias sem contar isto a ninguém, tal era a vergonha, caneco.
Há coisa de um mês, chovia (como tantos dias) na hora exacta de as ir buscar à creche. Saímos a correr, abro a porta da carrinha, toca a entrar, tudo no banco de trás. Peço à L para subir para a cadeira dela, que fica na outra ponta, enquanto sento a J e aperto os cintos (bendita Scénic e benditas Pearl – compradas aqui – que cabem lado a lado e ainda fico com um lugar livre para estas rotinas). Tomem lá a xinha e o búbú. Tá tudo? Saio da parte de trás, entro no lugar do condutor e arranco de Montes Claros. A subir para o IC2, a L diz “Mamã, isto não está apertado!”. O QUÊ????? Não apertei a m…a dos cintos!!! E agora, pá, porra, que cabeça a tua, vai ali a garota completamente solta e se tivesses que travar a fundo, e se alguém te batesse por trás, e se um monte de ses. Respirei fundo, saí na Pedrulha, encostei, saí do carro, apertei os cintos, entrei no meu lugar e fui calada até casa. Eu não era assim, caraças.
Esta semana também me lembrei disto, porque estava nos semáforos de Celas ao lado de um carro com uma mãe à frente e atrás uma avó e um garoto para aí com 3 anos absolutamente livre, com todo o banco de trás para ele, num vaivém entre a avó e a mãe. Passou a verde, ela arrancou, sem problemas e eu fiquei ali a pensar no meu episódio do outro dia e no meu peso na consciência e a levar buzinadelas. É por isto que o mundo não tomba, não somos mesmo todos iguais.
2 Comentários
Irina Dupret Ribeiro
30 Abril, 2014 às 21:17Não fiques assim, eu desde que tive os gémeos o meu esquecimento tem sido enorme, olha que uma vez sai da minha sogra para a minha casa e quando cheguei, ao retirar os ovos vi que não tinha colocado os cintos, a sorte é que conduzo devagar. Beijinhos
mamã cereja
30 Abril, 2014 às 22:40Irina, nos ovos nunca me aconteceu, mas só por acaso…mas lembrei-me agora que uma vez queria descongelar pão e em vez disso fiz como se estivesse a esterilizar biberões. Claro está que o pão ficou intragável!!!! Beijinhos cachopa.